sexta-feira, 29 de julho de 2011

Trabalho de produção /revisão de texto

Sabemos que o trabalho com a produção de textos é primordial nos processos de ensino e aprendizagem da língua materna, pois favorece o desenvolvimento da relação significativa entre habilidades de escrita e habilidades de leitura e, consequentemente, impulsiona a formação de um escritor competente. Mas o que vem a ser um escritor competente na atualidade?

O escritor competente sabe escolher o gênero textual mais apropriado aos seus objetivos na produção de um discurso; é capaz de planejar seu discurso em função do destinatário considerando as características do gênero; consegue elaborar resumos, fazer anotações no decorrer de uma exposição oral e expressar seus sentimentos, experiências ou opiniões e é capaz de revisar e reescrever o texto até torná-lo satisfatório a seus objetivos.

Para tanto, na educação básica, o trabalho eficaz com produções de texto exige que o professor proporcione aos alunos o contato com grande diversidade de gêneros desde seu ingresso na escola; determine gêneros de foco em cada série, preferencialmente os gêneros que circulam socialmente entre as pessoas para ler e discutir em sala de aula e, a partir das escolhas feitas, definir modelos específicos de cada um dos gêneros, com referências teóricas específicas, determinando as dimensões que serão abordadas com os alunos.

Segundo BAKHTIN* "é de acordo com nosso domínio dos gêneros que usamos com desembaraço, que descobrimos mais depressa e melhor nossa individualidade neles (quando isso é possível e útil), que refletimos, com maior agilidade, a situação irreproduzível da comunicação verbal, que realizamos, com o máximo de perfeição, o intuito discursivo que livremente recebemos". Daí destacamos a importância do trabalho com gêneros desde as primeiras séries do ensino fundamental, considerando que o objetivo máximo do ensino de Língua Portuguesa é o desenvolvimento da expressão oral e escrita. Nessa perspectiva desenvolvemos uma proposta pedagógica, com o objetivo de conduzir os alunos à percepção da estrutura da escrita e relação de sentidos das palavras no contexto, para que possam ampliar os recursos de elaboração de seu próprio discurso, produzindo e revisando os textos produzidos.

A produção de texto pressupõe a reorganização de uma experiência anterior (uma discussão em grupo, uma leitura, uma situação vivida, uma história conhecida, etc.).

Para ser significativa e atender ao objetivo proposto, a produção de texto deve ser planejada com o aluno para que ele tenha conhecimento das expectativas sobre seu texto e os parâmetros de revisão e avaliação que serão adotados. O aluno precisa ter claro para quem ele escreverá, o que, como e o que se espera desse texto.

Escrever não depende de dom, mas de empenho, dedicação, compromisso, seriedade, desejo e crença na possibilidade de ter algo a dizer que vale a pena. Escrever é um procedimento e depende de exercitação: o talento da escrita nasce da frequência com que ela é experimentada.

No processo de produção de textos, o professor deve orientar seus alunos no entendimento de que todo o texto é provisório, seja na intenção de quem escreve, seja na compreensão de quem o lê.

Para o desenvolvimento dessa postura mais crítica e estruturada, o professor deve adotar estratégias que ajudem os alunos nessa construção, tratando toda a produção como rascunho, todo texto como provisório. Essa provisoriedade permite que se faça revisões e alterações sem afetar a autoestima dos escritores iniciantes.

Revisar exige distanciamento do texto, exige orientação e objetivos claros para que não haja desmotivação, portanto, para a atividade de revisão ser produtiva é preciso definir o objetivo que se pretende alterar num texto: elementos de coesão (roteiros), pontuação, adequação ortográfica, clareza de ideias, emprego de linguagem adequada ao destinatário etc., escolhendo um dos aspectos de cada vez e orientando claramente os alunos no tratamento desse aspecto. Tratar de todos os aspectos a serem revisados ao mesmo tempo, não só confunde como cansa os alunos.

Ao ler os textos produzidos, o professor deve ter como foco primeiro detectar os pontos onde o que está dito não é o que se pretendia, identificando os problemas do texto e ajudando os alunos a aplicar os conhecimentos sobre a língua para resolvê-los. É preciso investir em situações coletivas de revisão de texto escrito, bem como atividades em parceria, sempre sob orientação do professor. As situações de produção deverão propor situações reais de comunicação, tanto para a produção quanto para a recepção de textos.

Em nossa experiência, destacamos como atividades significativas de produção de texto para o ensino fundamental I:

- Murais e painéis de textos;
- Cartazes;
- Produção de livros: poemas, contos preferidos da turma, canções, brincadeiras, receitas, etc.
- Histórias em quadrinhos;
- Jornal mural;
- Campanhas de conscientização, etc.

Se o objetivo do trabalho com a produção de textos é tornar o aluno um proficiente escritor, possibilitando-lhe produzir diferentes gêneros textuais, é necessário esclarecer o aluno de que:

- quando escreve, ele é o autor do texto;
- esse texto possui um objetivo;
- esse texto possui um destinatário.

A produção deve supor revisão, ligada, inicialmente ao conteúdo (respeito às expectativas planejadas, coerência), e, a seguir, à forma (no 1o e 2o ano, mais voltada à aquisição do registro alfabético; nas demais séries, não só o registro ortográfico, mas as escolhas vocabulares, a pontuação, etc.).

As revisões devem ser feitas uma vez por bimestre ou trimestre, para não sobrecarregar o aluno com demasiadas orientações, favorecendo também o trabalho com situações mais informais de escrita.

O processo de produção e revisão ainda proporciona uma excelente oportunidade de trabalho com a normatização ortográfica, pois estará contextualizado em situações em que os alunos tenham razões para escrever corretamente, em que a legibilidade seja fundamental porque existem leitores de fato para a escrita que produzem. Deve estar voltado para o desenvolvimento de uma atitude crítica em relação à própria escrita, ou seja, de preocupação com a adequação e correção dos textos. E ainda que tenha um forte apelo à memória, a aprendizagem da ortografia não é um processo passivo: trata-se de uma construção individual, para a qual a intervenção pedagógica tem muito a contribuir.

A seguir, destaco as etapas de produção e revisão que temos adotado na organização do trabalho:

1º momento: Planejamento da produção (roteiro, definição de objetivo, destinatário e suporte)
- Antes do momento de produção é essencial que os alunos tenham lido e ouvido muitos textos do(s) gênero(s) escolhido. Do repertório depende o sucesso que os alunos terão no domínio do gênero.
- As produções, com objetivo de produto final, podem ser feita em duplas.
- Combinar o formato e a organização do produto final: repetiremos textos (história, fatos, personagens)? Cada dupla fará um texto diferente? Faremos uma ilustração?
- Estabelecer um roteiro que sirva de orientador para a produção dos textos, a partir de um texto do gênero que tenha sido estudado.

2º momento: Produção escrita
- Escrita do texto a partir do roteiro pré-estabelecido
- Retomar o roteiro, o objetivo final e os combinados do trabalho

3º momento: Leitura da primeira produção retomando o planejamento/ anotações de revisão
- O professor lê os textos, faz anotações e devolve aos alunos indicando o que deve ser alterado (coerência e coesão)

4º momento: Reescrita do texto a partir a das anotações de revisão
- A partir das alterações sugeridas e feitas na revisão, o texto será reescrito de acordo com a necessidade.

5º momento: Leitura da segunda produção, a partir de objetivo definido (coesão, coerência, ortografia)
- O professor realiza uma segunda leitura, verificando se as questões de coesão e coerência foram solucionadas e indica as correções ortográficas necessárias.
- Como há produto final, a escrita do texto precisa ser a mais próxima possível do convencional.

6º momento: Finalização da produção (passar o texto a limpo, elaborar cartaz, montagem do livro)
- Passar o texto a limpo no suporte definido (folha padronizada, papel para exposição no mural, etc.).
- Promover momento de exposição do trabalho. No caso de livro ou álbum, os alunos poderão levar para casa acrescentando, no final, uma página para comentários dos leitores.


*Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895 - 1975) linguista russo. Seu trabalho é considerado influente na área de teoria literária, crítica literária, sociolingüística, análise do discurso e semiótica. Bakhtin foi um filósofo da linguagem e sua lingüística é considerada uma "trans-linguística" porque ultrapassa a visão de língua como sistema. Para Bakhtin, não se pode entender a língua isoladamente, sem considerar o contexto de fala, a relação do falante com o ouvinte, o momento histórico, etc.
Texto produzido pela Assessoria Pedagógica da FTD

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