Lucíola Licínio de Castro Paixão Santos
Os problemas da formação de professores são dois: primeiro, a ampliação da educação, sua universalização, num país com grandes desigualdades sociais, onde a escola recebe crianças vindas de bolsões de miséria.
Trata-se de uma clientela diferente em uma sociedade completamente diferente, com mudanças de relações sociais, mudanças econômicas, novas tecnologias, novas formas de trabalho. Por outro lado, os cursos de formação de professores podem ter se modernizado, introduzido algumas metodologias novas no ensino das diferentes disciplinas, e algumas disciplinas, como Antropologia, mas ele não se reconfigurou, nem os seus professores o fizeram, para trabalhar com essa nova realidade. Também não se fortaleceu internamente do ponto de vista do campo pedagógico. Não se fortaleceu nem do ponto de vista do enfrentamento das novas questões culturais, sociais, econômicas, que delineiam o espaço da infância e da juventude, nem se fortaleceu pedagogicamente para enfrentar os desafios do ensinar hoje. Considerando as profundas transformações dos próprios conteúdos e no seu ensino, há uma grande defasagem. A geografia escolar, que se propõe hoje ser ensinada, não é a geografia escolar de há 30 anos; a matemática escolar que se propõe ensinar hoje não é a matemática ensinada há 30 anos, nem o equipamento pedagógico, nem o modo de lidar com a nova realidade,que estão conectados, mas que implicam aspectos diferentes, como a própria reorganização dos tempos, espaços e cultura da escola.Desse modo, o problema no Brasil, em relação às políticas de formação docente, constitui uma questão muito delicada: a dimensão política da educação. Essa dimensão foi assumida pelos educadores durante o regime militar. Naquele momento, a luta contra a ditadura incluía a luta contra as políticas públicas emanadas daquele regime. Parece que os educadores, desde então –e esse é o ponto delicado – desenvolveram grandes habilidades em criticar e pouca capacidade em propor. A educação assumiu sua dimensão política. É claro que ela tem uma questão política em todos os sentidos, mas quanto a assumir a construção de uma prática de natureza política,criou-se essa imobilidade, que se mantém até hoje.Penso, ainda, que a figurado professor foi identificada com a de um trabalhador prático, e isso tem relação com a forma de politização da educação, vem no mesmo processo. O professor é um trabalhador, de fato, mas é um trabalhador intelectual, e a natureza de seu trabalho é de outra ordem. Profissões que lidam com pessoas, como a Psicologia, a Medicina, a Enfermagem, a Assistência Social, têm maior ônus. Carregam a preocupação constante dos problemas com os quais eles estão se defrontando.Não é um trabalhador que bate o ponto e só pensa no trabalho do dia seguinte, quando a ele retorna. O professor leva seus problemas para casa. Se, por um lado, se buscava a identificação do professor com as classes trabalhadoras,englobando-o numa luta política maior, por outro lado,houve uma analogia indevida, pela diferença da natureza do trabalho, enviesando a ação de formação, que é de natureza complexa. Digo enviesando porque vêm daí os currículos com ênfase em formação geral, visão política da realidade e pouco instrumental para o trabalho concreto. É óbvio que um educador precisa compreender a dimensão política da educação e a orientação política das propostas educacionais, mas precisa também aprender a atuar. Já vi muito ex-aluno da FaE-UFMG dizendo que quando se formou sabia criticar tudo, mas, infelizmente,não sabia o que propor para o trabalho concreto.
Fonte:• PRESENÇA PEDAGÓGICA • v.12 • n.67 • jan./fev. 2006
Nenhum comentário:
Postar um comentário